Diante de um cenário global adverso, marcado pela oferta limitada de matéria-prima, as principais produtoras vêm anunciando reajustes mensais. A celulose continua em disparado no mercado global: os preços nominais da matéria-prima estão atingindo patamares recorde neste ano e não há sinais, pelo menos nos próximos meses, de uma correção acentuada. As produtoras estão anunciando reajustes mensais, suportados por uma oferta limitada devido a gargalos logísticos, guerra na Ucrânia, problemas em fábricas e atrasos no início de operação de novas linhas produtivas.
14/06/2022 - A celulose continua em disparado no mercado global: os preços nominais da matéria-prima estão atingindo patamares recorde neste ano e não há sinais, pelo menos nos próximos meses, de uma correção acentuada. As produtoras estão anunciando reajustes mensais, suportados por uma oferta limitada devido a gargalos logísticos, guerra na Ucrânia, problemas em fábricas e atrasos no início de operação de novas linhas produtivas.
Na China, maior consumidora mundial da commodity, o preço líquido da fibra curta avançou mais de 40% em seis meses – e deve subir mais, com a aplicação do aumento de US$ 30 por tonelada anunciado para junho, aproximando-se de US$ 840 por tonelada. No geral, analistas projetam preço médio de mais de US$ 700 por tonelada em 2022.
Analistas e fontes da indústria acreditam que há margem para implementação desse reajuste, assim como os de US$ 50 e US$ 60 por tonelada para Europa e América do Norte neste mês. Nesses mercados, os preços de referência praticados pela Suzano, atingirão US$ 1.350 e US$ 1.580 por tonelada, respectivamente. O diretor comercial de celulose e gente e gestão da Suzano, Leonardo Grimaldi, afirmou que as negociações para aplicar os novos reajustes ainda estão em curso, mas a companhia está otimista.
“Logística é a origem de tudo e não vemos perspectiva de melhora para o segundo semestre”, afirma Grimaldi. Apesar de preocupações quanto à demanda no terceiro trimestre terem sidas descartadas, há incertezas em relação ao quarto trimestre, considerando o risco de recessão exacerbado pela guerra entre os países europeus.
O congestionamento em portos e a elevação do frete marítimo, especialmente de contêineres no caso da celulose, e paradas inesperadas em fábricas diminuíram a disponibilidade da matéria-prima no mercado e o nível dos estoques em toda a cadeia de valor, ainda em estado crítico.
Somente nos primeiros quatro meses do ano, esses eventos já reduziram a oferta global em 1,65 milhão de toneladas – quase o equivalente ao crescimento do consumo mundial em um ano. Os números não incluem a recente parada na fábrica da Arauco em Valdívia, no Chile, após um incêndio no fim de maio. A unidade tem capacidade de
550 mil toneladas por ano e, desde 2020, produz principalmente celulose solúvel.
A invasão da Ucrânia pela Rússia, por sua vez, impactou principalmente a oferta de madeira para produção de celulose na Europa. “A Finlândia depende em 15% da madeira vinda da Rússia para alimentar a sua produção de celulose”, afirma o sócio-diretor do grupo Index e mestre em Economia e Política Florestal, Marcelo Schmid. Também
por conta da guerra, certificadoras relevantes, como FSC (do inglês Forest Stewardship Council), retiraram seu selo dos produtos florestais russos, o que praticamente inviabiliza o comércio com os europeus.
O analista Daniel Sasson, do Itaú BBA, também vê margem para aplicação dos aumentos anunciados para este mês, mas destaca que eles elevam a pressão sobre as papeleiras, sobretudo no mercado asiático. Mesmo assim, a relação apertada entre oferta e demanda favorece o novo reajuste. “Pode haver ajuste e normalização dos preços a
partir do quarto trimestre, com a entrada em operação de novas capacidades, se não houver atraso do projeto Mapa”, avalia.
Enquanto a partida da nova fábrica de celulose da UPM no Uruguai foi adiada deste ano para o primeiro trimestre de 2023, a operação do Projeto Mapa, da Arauco teve seu início postergado mais uma vez, agora para o terceiro trimestre.
Em relatório desta semana, o Bradesco BBI elevou as estimativas para os preços da fibra curta para US$ 775 por tonelada neste ano e US$ 730 por tonelada em 2023. Para os analistas Thiago Lofiego, Isabella Vasconcelos e Camilla Barder, os gargalos logísticos serão contornados e culminarão em ajustes nos preços, mas de forma gradual.
Ainda assim, o próximo ano também deve ser de oferta limitada.
“Acreditamos que a unidade Paso de Los Toros da UPM [no Uruguai] vá ser postergada novamente, devido a restrições logísticas e de fornecedores”, escreveram. Ademais, a Bracell segue produzindo volumes crescentes de celulose solúvel – e não de eucalipto –, entre outros fatores que reduzem a projeção de oferta adicional de 2,5 milhões de toneladas para 1,6 milhões de toneladas em 2023.
Simultaneamente, a demanda de celulose no próximo ano deve ser alavancada pela recomposição de estoques – desde o quarto trimestre de 2020, eles recuaram cerca de 1,8 milhão de toneladas nos consumidores, segundo dados da Hawkins Wright.
Para o Morgan Stanley, a valorização do real frente ao dólar deve excluir parte dos ganhos com preços mais elevados no segundo trimestre. O preço mais alto da celulose de eucalipto na China foi de US$ 830 por tonelada, em junho de 2010, na série histórica do banco, disse o analista Carlos De Alba, em nota a clientes.
Fonte: Valor Econômico (site Tissue Online)
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