Após 12 anos, a Embrapa está concluindo o primeiro ciclo de 12 anos do maior experimento do mundo com sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
01/08/2024 - A Embrapa Agrossilvipastoril anunciou que está concluindo o primeiro ciclo de 12 anos do maior experimento do mundo com sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), em Sinop, no Mato Grosso. As pesquisas apresentaram resultados que ajudam a fazer recomendações sobre uso do componente arbóreo nesses sistemas produtivos.
A definição da estratégia de uso das árvores em sistemas de integração varia entre as propriedades, conforme o interesse do produtor. Fatores como destinação da madeira, mercado consumidor, forma de colheita, uso das árvores como adição ou substituição de renda, características da propriedade, entre outros, devem ser avaliados. Isso torna cada projeto único. Porém, a tomada de decisão deve ser baseada em fundamentos técnicos como os obtidos na pesquisa.
De acordo com a Embrapa, o trabalho de pesquisa utilizou o eucalipto (clone H13), devido ao rápido crescimento da espécie, com técnicas silviculturais desenvolvidas e com múltiplos usos. As árvores foram testadas em sistema de integração lavoura-floresta (ILF), integração pecuária-floresta (IPF) e ILPF, além da monocultura utilizada como testemunha. O plantio ocorreu inicialmente em renques de três linhas distantes 30 metros entre si e, após intervenções, alguns dos tratamentos tiveram as linhas externas suprimidas e ficaram como linhas simples espaçadas em 37 metros.
A pesquisa acompanhou todo o desenvolvimento das árvores, as operações de manejo como poda de galhos e desbastes (corte seletivo de árvores), dados de crescimento, acúmulo de biomassa e carbono, efeito bordadura dos renques, estoque de madeira, entre outros.
Gabriel Faria
No decorrer dos 12 anos, os sistemas integrados produziram entre 87 m³ e 114 m³ de madeira por hectare. Os volumes variaram conforme o número de árvores conduzidas até o fim do experimento.
“Quando falamos em sistemas de integração, temos que pensar na produtividade de todo o sistema. Se eu aumento o número de árvores, terei redução na produção da lavoura e da pecuária. Sendo assim, o maior número de árvores tem que fazer sentido na avaliação global”, explicou o pesquisador Maurel Behling.
A área testemunha, com monocultura de eucalipto, produziu 350 m³ por hectare ao longo dos 12 anos, ficando dentro da média de incremento anual do H13 em áreas de silvicultura em Mato Grosso, que é de 32 m³ por hectare.
COMPORTAMENTO DE CRESCIMENTO E CARBONO
Os dados de crescimento em altura, diâmetro à altura do peito (DAP) e volume de madeira medidos ao longo dos anos indicaram que os sistemas integrados proporcionam o chamado efeito bordadura, que consiste no efeito causado nas árvores externas da monocultura por receberem mais luz, água e nutrientes que aquelas do interior e por terem menor competição com árvores vizinhas. Na ILPF esse efeito foi observado nos renques de linhas triplas, com a árvore do meio tendo menor DAP, assim como as árvores do tratamento só com eucalipto.
O efeito bordadura foi ainda mais acentuado na avaliação de biomassa e de acúmulo de carbono nas árvores. O sistema ILPF, que inicialmente teve renques triplos e passou a ter renque simples após corte das linhas laterais, foi o que mais acumulou carbono, passando dos 30 kg/ano por indivíduo. O valor se diferenciou estatisticamente dos demais e ficou bem acima dos cerca de 20 kg/ano por árvore na monocultura.
Gabriel Faria
“Além de favorecer o ganho em volume das árvores, com maior potencial para aproveitamento na serraria, há uma maior taxa de acúmulo de carbono nas árvores na ILPF. É um carbono que teoricamente terá um ciclo de vida maior do que aquele usado como biomassa”, destacou Behling.
O pesquisador lembra ainda que o carbono não fica estocado somente na madeira. As árvores no sistema produtivo ainda deixam grande volume de carbono na área em forma de folhas, galhos, serrapilheira e matéria orgânica.
“Cerca de 10 toneladas de resíduos por hectare que permanecem são originárias da área útil com árvores. Isso sem considerar tocos e raízes que em média representam 20% da biomassa total da árvore”, acrescentou o pesquisador.
RECOMENDAÇÕES
Behling enfatiza que os resultados obtidos neste experimento, somadas às experiências de produtores em Unidades de Referência Tecnológica em Mato Grosso, dão subsídios para a tomada de decisão no planejamento de sistemas ILPF.
De acordo com o pesquisador, se o objetivo é adicionar renda ou melhorar o conforto térmico para o gado, os sistemas com linha simples são mais indicados. Já se o produtor quer um modelo com maior número de árvores e que sua venda compense as perdas de produção na lavoura e pecuária, é possível fazer renques de múltiplas linhas.
“Se o objetivo é produzir biomassa, por exemplo, é importante adequar o número de linhas ao parque de máquinas que fará a colheita, de forma a viabilizar o custo”, ressaltou Behling.
Fonte: Portal Celulose
Comments